9.8.09

Quando a RTP esqueceu Solnado

A segunda morte de Raul Solnado (Pedro Correia, blogue Delito de Opinião): «...é incompreensível que a RTP - que tanto deve a Solnado - não tenha produzido em tempo útil um bom documentário sobre a vida e a obra deste lisboeta da Madragoa que foi um dos nossos cidadãos universais. Pior que isso: é um insulto à memória deste grande actor e dos seus milhões de admiradores que o canal público de TV não tenha guardado nos arquivos as emissões integrais do Zip-Zip, um dos melhores programas de sempre da televisão portuguesa. Ainda pior: é um crime de lesa-património que a RTP tenha apagado todas as emissões d' A Visita da Cornélia, outro célebre programa de Solnado que obteve um enorme êxito em Portugal. O inesquecível intérprete d' A Guerra de 1908 merecia que a televisão pública que agora lamenta a sua morte o tivesse tratado com dignidade em vida. Preservando a memória do seu talento para as gerações que nunca terão o privilégio de o conhecer.»

Magoaram Solnado (Emídio Rangel, CM, 01 Setembro 2007)«Espanta-me a RTP. A indelicadeza, a falta de cortesia, a ausência de princípios, os procedimentos enganosos, a incapacidade para dizer sim ou não, mas sobretudo a sua cegueira

«Há coisas que não se fazem a ninguém. Por educação, por civilidade. Por exemplo, não se pode manter alguém em ‘banho-maria’, um ano e nove meses, à espera que se cumpra o contrato verbal firmado entre as partes. Se isto não se faz a ninguém, muito menos se faz a Raul Solnado. A RTP, numa postura manhosa e irresponsável, ousou ferir, humilhar, amachucar uma personalidade que deu tudo o que tinha àquela casa. A RTP tem 50 anos de vida. Solnado tem 50 anos de dedicação à ingrata televisão do Estado. Solnado é um príncipe, um homem de rara envergadura intelectual, um grande humorista, que andou a vida inteira de cabeça levantada. Solnado é um actor sublime, grande apresentador de televisão. ‘Inventou’ a televisão quando aquilo era uma pasmaceira (‘ZipZip’). ‘Reinventou’ a televisão quando a criatividade e a imaginação se afastaram da RTP (‘A Visita da Cornélia’). Solnado não parou por aí, inquieto como sempre, fez muitos filmes, com Laura Alves, Eugénio Salvador, António Silva entre outros. É um homem grande, muito premiado pelo seu talento, pela sua inteligência, pelo seu trabalho. Um senhor com este percurso merece o desprezo e os jogos hipócritas de umas figurinhas, pigmeus indecorosos, que passeiam a sua vaidade nos corredores da RTP?

«Mas qual foi o ‘crime’ de Solnado? Apresentou duas propostas de programa há 600 dias ao manda-chuva da programação. Uma foi aceite e considerada “excelente” para integrar nas comemorações dos 50 anos da RTP. O tempo correu e Solnado esperou. Depois começou a dança dos e-mails. A RTP reafirmou o seu compromisso e marcou a assinatura do contrato “nos próximos oito dias”. Nunca chegou o célebre dia da assinatura do contrato, mas as promessas continuaram e os pedidos para fazer o programa. Solnado manteve-se como ele próprio diz nessa “expectativa amarga” durante um ano e seis meses. A RTP faltou à palavra, a RTP enganou. A RTP mentiu. A RTP foi hipócrita. A RTP arranjou desculpas esfarrapadas para ir justificando o injustificável. A RTP feriu o homem, o actor. A RTP foi ingrata. A RTP foi estúpida e insensível e não percebeu que Solnado recusou, nesse ano e meio, outras propostas de trabalho, porque tinha um “compromisso”. A RTP perdeu a memória e esqueceu-se de tudo o que deve a Solnado. Os pelintras da estação pública não perceberam que Solnado, que é frontal, precisava só de uma resposta frontal. Como são homens sem coragem andaram a ‘entretê-lo’. Não lhe atendiam o telefone, dizia a secretária, porque estavam em reunião. Reunião atrás de reunião. Prometeram telefonar de volta mas faltou-lhes sempre o ânimo. Solnado, perspicaz como sempre, assistiu ao jogo destes aldrúbios que pululam pela casa pública da televisão, riu-se deles, e como é um homem de fibra vai levá-los aos tribunais.

«Encontrei Solnado triste e magoado. As coisas agora pesam mais e deixam marcas mais profundas. Solnado está cansado. Mas não desiste. Exige justiça e reparação de danos. Espanta-me a RTP. A indelicadeza, a falta de cortesia, a ausência de princípios, os procedimentos enganosos, a incapacidade para dizer sim ou não, mas sobretudo a sua cegueira. Solnado, hoje como sempre, tem ideias, capacidade de fazer sucesso com as ideias que tem, talento para estar (com as Produções Fictícias) no ecrã do serviço público de televisão. Pérolas a porcos, pérolas a porcos, pérolas a porcos... Comendador Solnado, um dia, não sei quando, a RTP vai fazer-te a homenagem que mereces. É que os porcos engordam, mas não duram sempre.»

Solnado desafia estação pública. "Sinto mais alento" (CM, 2/9/07) O actor e apresentador está “a preparar, com os advogados, uma acção contra a RTP”, avançou ao CM. Em causa está o não cumprimento da produção de um talk show intitulado ‘Amores Perfeitos’.

A polémica veio ontem a lume numa crónica de Emídio Rangel, publicada no nosso jornal, sob o título ‘Magoaram Solnado’, em que o antigo director de antena da estação pública refere que “o que a RTP fez com Raul Solnado não se faz a ninguém”. Por seu lado, Raul Solnado revelou-se ontem “grato” com a crónica de Emídio Rangel. “Deu-me mais alento, porque gostava muito de provar à administração de programas da RTP que não existe o poder absoluto”, referiu o apresentador ao CM."

Raul Solnado deverá regressar à RTP em 2009 (DN, 16 Maio 2008): «...Em Setembro de 2007, o actor considerou a hipótese de processar a RTP e de exigir uma indemnização cível por "danos morais", processo que, afinal, acabou por não avançar. Em causa estava o programa Amores Perfeitos, que o actor teria proposto em Novembro de 2005 ao então director de Programas da RTP, Nuno Santos, e que o mesmo teria aceite sem, no entanto, chegar ao ponto de o concretizar.

«O actor acusou, na altura, Nuno Santos [hoje director de Programas da SIC] de "não ter sido franco" e de ter sido "insolente", adiando sucessivamente a assinatura do contrato. "Fiquei mais de 500 dias na expectativa, agarrado a um compromisso que a RTP não cumpriu", disse Raul Solnado ao DN, a 2 de Setembro de 2007, confessando-se "muito magoado".»

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